9 de março de 2006

Nunca mais!

Quando ainda estava frio:

O dia ía correr mal. Eu sabia disso. Sempre soube. Saí. Dei de caras com o vizinho. Disse bom dia com o maior sorriso do mundo. Não fui correspondida. O vizinho, que até costuma ser simpático, resmongou um baixo ' Olá, Ana.' . A minha cabeça preparava-se para começar a insultá-lo, quando reparei que todo ele era preto. Sabes, o preto não devia existir. O preto é tão triste! Olhei para trás e assustei-me. Conhecia aquela situação e sabia que não era, de todo, nem um bocadinho agradável. Fiquei triste. Nem sequer pensei que o meu sorriso lhe podesse ter feito bem. Olhei para trás uma última vez: estava estático a olhar para as flores do nosso jardim. Segui em frente. Chorei. Não consegui limpar as gotas de lágrimas, que escorregavam lentamente pela minha face. Tinham congelado. O vento frio que corria apressado na direcção oposta à minha, corroia-me a pele. E congelou as minhas lágrimas. Não consegui limpá-las. E chorei o resto do dia sem parar. Não havia forma de parar. Quanto mais chorava, mais vontade tinha de chorar. Sorriam e eu chorava. Brincavam e eu chorava. Conversavam e eu chorava. Comiam e eu chorava. As lágrimas que não paravam de escorrer pela minha triste face, foram, naquele dia, o meu vício. E o vício não me largou durante todo o dia. De regresso a casa, reparei em algo brilhante caído no chão. Baixei-me, interessada. Era uma lágrima. Uma lágrima congelada. Sorriu-me e disse-me para não me preocupar. Disse-me, divertida, que conseguiu encerrar todas as minhas lágrimas dentro dela. Disse-me que nunca mais irei chorar. Disse-me ainda que vou, para sempre, fazer os maiores sorrisos do mundo. E os mais bonitos, também.
E eu acreditei, pois então!

(...)




E não é que foi mesmo verdade?
Nunca mais chorei, acreditas?


Ouvindo: The Gift- Cube


12 comentários:

Anónimo disse...

Queria encontrar uma agrima dessas...

**

(sem paciencia!)

Marta disse...

Quem me dera... Oh, quem me dera! És tão bonita...

Super Mulher

Anónimo disse...

E tudo despoletado pelas lágrimas do outro...(afinal parece haver algum valor na tristeza)

ficaste com uma joia por cima da lareira e tornáste-te uma pateta alegre ? hum... Não! não acredito.

Ana disse...

Pois. talvez não passe de um pateta feliz. mas.. e depois? mais vale ser pateta do que triste. não?
bjus!*

Ana disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

tens razão, tens razão... Além disso, sejamos ecológicos, poupemos água (tão cara que ela está!) mesmo que salgada. Não vamos encher o oceano do Pessoa. Abaixo as lágrimas!! :)

Anónimo disse...

Por acaso há um Porto, acho que se chama "Lágrima" (ou será "quinta das lágrimas" ?) que é uma delicia!

Anónimo disse...

Lembrei-me de outra: então e as lágrimas de riso ? Nunca mais choras-te a rir ? Ora aí está uma coisa simultaneamente muito triste e muito pateta :) Agora é que eu não acredito mesmo!

Ana disse...

Pois..tens razão.
Mas olha.. posso conhecer-te??^^

Anónimo disse...

eu sou as minhas palavras, bolas. tu não queres conhecer-me, mas sim reconhecer-me. Impossible. We never met, unfortunately. Para me distinguir dos outros gajos chamados anonymous, vou usar o apelido Silva, que é pouco comum em Portugal.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.