19 de fevereiro de 2007

Revivi-a durante um play

Não queria fazer o que devia fazer. Decidi-me então por abrir a tampinha e oferecer-lhe aquele. Aquele que dum lado é preto e do outro vermelho. E toquei levemente no play.
Fui buscar a caixa mágica. Não a abri, porque já é aberta. Assim custa menos, dizem. E é verdade. Não é fácil abrir uma caixa
destas.
E comecei. Fui tirando, aos poucos, todas as tiras de papel brilhante que enchiam a caixa, ao mesmo tempo que nelas entrava, cantarolando aquele play, que me tocava aos ouvidos. Entrei em todas, mesmo naquelas que não chegaram a fazer parte de mim. E como entrei, também saí. Quando dei por mim, e voltei a ouvir a minha voz novamente, estava rodeada de tiras de papel brilhante, espalhadas pelo chão de madeira do meu quarto. E a caixa mágica, que é aberta, tão vazia. E o play, que ainda não o tinha deixado de ser.
Arrumei todas as tiras de papel brilhante na caixa mágica. Tentei arrumá-las tal e qual como estavam antes de nelas entrar. Um tentar totalmente em vão. Mas a caixa, que é aberta, ficou mais que cheia, tal e qual como estava, e isso é o mais importante.
Antes de pegar nela, e levá-la para o seu sítio, roubei-lhe uma tira de papel brilhante, a mais brilhante de todas. Roubei-a e guardei-a no coração. Espero que não se importe. Quase de certeza que não irá notar, está mais que cheia, tal e qual como estava. A minha língua continuava a mexer-se, produzindo sons em uníssono com o
play.
Peguei na caixa das tiras de papel brilhante e levei-a para o seu sítio, aquecido por trapos que já ninguém usa.
Voltei ao chão do meu quarto. O som calou-se. O play transformou-se em stop. E a minha língua congelou.




Revivi-a durante um play. Dezoito anos, quase dezanove durante um simples toque no maior dos botões. Dezoito anos, quase dezanove durante doze músicas.
E ainda tive tempo de arrumar tudo o mais direitinho que consegui.
E olhem que arrumar uma caixa destas custa.
E fechá-la, ainda mais ...! (mas esta, esta é aberta.)


Ouvindo:
Donna Maria.



10 de fevereiro de 2007

E ri-me.

Subi as escadas lentamente, assim com os dois pés a tocarem cada degrau, como fazem as crianças pequenas. Eram muitas, mas eu subi-as todinhas, sem tocar uma vez que fosse no corrimão. Sim, fiquei demasiado feliz, porque os corrimões são os meus melhores amigos, quando se trata de subir escadas. O céu estava azul, daquele azul clarinho que eu tanto gosto, e o sol brilhava como nunca.

Cheguei finalmente ao cimo das escadas, um grande manto verde se estendia diante mim. Que fiz? Deitei-me, rebolei-me, esperneei-me, dei cambalhotas. E ri-me. Ri-me às gargalhadas bem fortes. E ri-me ainda mais do meu próprio rir. Rir faz tão bem, sabes? E ali fui feliz. Ali, onde o verde da relva, o amarelo do sol, e o azul do céu se juntaram a todas as minhas cores. Sim, porque eu, às vezes, sou um arco-íris.


Fico por aqui, se não vem a chuva, e é uma chatice. E que me perdoem os meninos e as meninas da chuva, mas eu não consigo gostar nem um bocadinho dela.



Hoje não me apetece um final triste.

1 de fevereiro de 2007

Escape Myself.

Eu já não sinto. Não sei dizer sequer se vivo. Tudo acontece só porque tem que acontecer. O tempo passa apenas porque tem que passar. Todos me vêm, mas eu não estou lá. Eu falo, mas nada digo. Olho, e nada vejo. Já não sinto. E nada me faz feliz. N A D A. Nem os raios de sol que passam pelas persianas do meu quarto são capazes de me tirar deste estado de completa insensibilidade.

Quero, mas não consigo. Não consigo, não sinto. Não sinto, não vivo. Não vivo, torço o nariz? Não! Eu quero. Então decido-me por ir andando por ai, sem sentir. Sem viver, até. Andando por ai, à espera que o tempo passe..

Solução? Tentar outra alma. Ou outro corpo, quem sabe.


[ estive ausente, mas a culpa não foi minha. os computadores... enfim, eles..! ]




Ouvindo: eu também já não oiço.