Quando ainda estava frio:
O dia ía correr mal. Eu sabia disso. Sempre soube. Saí. Dei de caras com o vizinho. Disse bom dia com o maior sorriso do mundo. Não fui correspondida. O vizinho, que até costuma ser simpático, resmongou um baixo ' Olá, Ana.' . A minha cabeça preparava-se para começar a insultá-lo, quando reparei que todo ele era preto. Sabes, o preto não devia existir. O preto é tão triste! Olhei para trás e assustei-me. Conhecia aquela situação e sabia que não era, de todo, nem um bocadinho agradável. Fiquei triste. Nem sequer pensei que o meu sorriso lhe podesse ter feito bem. Olhei para trás uma última vez: estava estático a olhar para as flores do nosso jardim. Segui em frente. Chorei. Não consegui limpar as gotas de lágrimas, que escorregavam lentamente pela minha face. Tinham congelado. O vento frio que corria apressado na direcção oposta à minha, corroia-me a pele. E congelou as minhas lágrimas. Não consegui limpá-las. E chorei o resto do dia sem parar. Não havia forma de parar. Quanto mais chorava, mais vontade tinha de chorar. Sorriam e eu chorava. Brincavam e eu chorava. Conversavam e eu chorava. Comiam e eu chorava. As lágrimas que não paravam de escorrer pela minha triste face, foram, naquele dia, o meu vício. E o vício não me largou durante todo o dia. De regresso a casa, reparei em algo brilhante caído no chão. Baixei-me, interessada. Era uma lágrima. Uma lágrima congelada. Sorriu-me e disse-me para não me preocupar. Disse-me, divertida, que conseguiu encerrar todas as minhas lágrimas dentro dela. Disse-me que nunca mais irei chorar. Disse-me ainda que vou, para sempre, fazer os maiores sorrisos do mundo. E os mais bonitos, também.
E eu acreditei, pois então!
(...)
E não é que foi mesmo verdade?
Nunca mais chorei, acreditas?
Ouvindo: The Gift- Cube
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12 comentários:
Queria encontrar uma agrima dessas...
**
(sem paciencia!)
Quem me dera... Oh, quem me dera! És tão bonita...
Super Mulher
E tudo despoletado pelas lágrimas do outro...(afinal parece haver algum valor na tristeza)
ficaste com uma joia por cima da lareira e tornáste-te uma pateta alegre ? hum... Não! não acredito.
Pois. talvez não passe de um pateta feliz. mas.. e depois? mais vale ser pateta do que triste. não?
bjus!*
tens razão, tens razão... Além disso, sejamos ecológicos, poupemos água (tão cara que ela está!) mesmo que salgada. Não vamos encher o oceano do Pessoa. Abaixo as lágrimas!! :)
Por acaso há um Porto, acho que se chama "Lágrima" (ou será "quinta das lágrimas" ?) que é uma delicia!
Lembrei-me de outra: então e as lágrimas de riso ? Nunca mais choras-te a rir ? Ora aí está uma coisa simultaneamente muito triste e muito pateta :) Agora é que eu não acredito mesmo!
Pois..tens razão.
Mas olha.. posso conhecer-te??^^
eu sou as minhas palavras, bolas. tu não queres conhecer-me, mas sim reconhecer-me. Impossible. We never met, unfortunately. Para me distinguir dos outros gajos chamados anonymous, vou usar o apelido Silva, que é pouco comum em Portugal.
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